''Uma condenação sem futuro não é uma condenação humana: é uma tortura'', afirma Francisco

Foto: Ximena Navarro | Fotos Públicas

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17 Janeiro 2018

O papa convida as mulheres presas ao “sonho da reinserção”.

A reportagem é de Andrea Tornielli, publicada no sítio Vatican Insider, 16-01-2018. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

“A maternidade nunca é nem será um problema, é um dom, um dos presentes mais maravilhosos que vocês podem ter...” O Papa Francisco abraça mulheres e mães detidas no Centro Penitenciário Feminino de Santiago, antigamente confiado às irmãs da Congregação do Bom Pastor.

É uma prisão feminina que dispõe de 885 lugares, mas abriga cerca de 1.400 mulheres que se mancharam com vários crimes, até mesmo graves, e que tem notáveis problemas por causa da superlotação. Nela, são acolhidas cerca de 45% das mulheres detidas em todo o país.

Na sua chegada, duas reclusas com seus filhos ofereceram flores a Francisco. Uma delas se entreteve por um longo tempo, comovida, segurando nos braços a sua filha com um vestidinho rosa. Uma detenta está grávida, e Bergoglio apoia a sua mão na barriga para abençoar o bebê.

Depois, a pé, o papa se deslocou até o ginásio do instituto, onde era esperado por uma representação de cerca de 500 presas. Muitas o cumprimentaram, segurando na mão lenços brancos. Não queriam deixá-lo ir embora. O papa abraçou as muitas crianças presentes, que vivem na prisão com as suas mães.

Francisco escutou as palavras de boas-vindas de uma irmã encarregada da assistência pastoral, e de uma encarcerada, Janeth, que pediu “perdão a todos aqueles que ferimos com os nossos crimes”. E pediu que o papa “interceda para que o sistema judiciário chileno modifique o tratamento carcerário para as mães de menores”.

As detentas compuseram um hino juntando as frases que queriam dizer ao papa e que, escritas em cartões coloridos, haviam sido penduradas às centenas no teto do ginásio: “Um dia a mais de vida, um dia a menos de condenação. A tua visita é a minha alegria, pastor com cheiro de ovelhas! Obrigado, Francisco, irmão!”. Bergoglio acompanhou o canto lendo as palavras em um folheto que lhe foi passado.

Tomando a palavra, o papa agradeceu a Janeth por ter sabido compartilhar “com todos nós as tuas dores e esse valente pedido de perdão. Quanto temos que aprender com essa tua atitude cheia de coragem e humildade! Obrigado por nos lembrar dessa atitude sem a qual nos desumanizamos, perdemos a consciência de que nos equivocamos e que podemos nos equivocar e que a cada dia somos convidados a voltar a começar”.

O papa citou a frase de Jesus: “Quem nunca pecou que atire a primeira pedra”. “Eu, nos sermões”, acrescentou, “pergunto às pessoas se há alguém que não tem pecados. Ninguém se anima a levantar a mão!”

“Ele, Jesus, nos convida – acrescentou – a abandonar a lógica simplista de dividir a realidade em bons e maus, para ingressar nessa outra dinâmica capaz de assumir a fragilidade, os limites e até mesmo o pecado, para nos ajudar a seguir em frente.”

Depois, Francisco lembrou que foi recebido na entrada por duas mães com os seus filhos e com flores. E ofereceu uma breve meditação sobre as três palavras: mãe, filhos e flores.

“Muitas de vocês são mães – disse Bergoglio – e sabem o que significa gestar a vida. Souberam ‘carregar’ no seu seio uma vida e a gestaram. A maternidade nunca é nem será um problema, é um dom, é um dos presentes mais maravilhosos que vocês podem ter. E hoje vocês têm um desafio muito parecido: trata-se também de gestar vida. Hoje, vocês são convidadas a gestar o futuro. Que o façam crescer, que o ajudem a se desenvolver. Não somente para vocês, mas também para seus filhos e para a sociedade toda. Vocês, as mulheres, têm uma capacidade incrível de poderem se adaptar às situações e seguir em frente.”

“Nenhum de nós é uma coisa, eu não sou um número, não sou o detento número tal...”, disse ele de improviso.

“Ser privado da liberdade – acrescentou o pontífice – não é o mesmo que estar privado da dignidade. Não, não é o mesmo. Não se toca na dignidade de ninguém. Se cuida, se protege, se acaricia. Daí que é necessário lutar contra todo tipo de clichê, de rótulo que diga que não se pode mudar, ou que não vale a pena, ou que dá tudo no mesmo.”

Sobre a palavra “filhos”, Francisco observou que eles “são força, são esperança, são estímulo. São a recordação viva de que a vida é construída para a frente e não para trás. Hoje, você está privada da liberdade, mas isso não significa que essa situação seja o fim. De modo algum. Sempre olhar para o horizonte, para a frente, para a reinserção na vida atual da sociedade”.

Francisco citou a situação das prisões: “Todos sabemos que, muitas vezes, lamentavelmente, a pena da prisão pode ser pensada ou reduzida a um castigo, sem oferecer meios adequados para gerar processos. E isso não é bom”. Por outro lado, Bergoglio valorizou como “sinal de esperança e de futuro” os “programas de capacitação laboral e acompanhamento para recompor vínculo. Ajudemos a que cresçam”.

“A sociedade tem a obrigação de reinserir todas vocês!”, disse, acrescentando de improviso. “E quando eu digo reinseri-las, digo reinserir cada uma. Ponham isso na cabeça de vocês e exijam isso!”

Por fim, a palavra “flores”: “Creio que é assim que a vida floresce, que a vida consegue nos oferecer a sua maior beleza: quando conseguimos trabalhar juntos uns com os outros para fazer com que a vida vença, que seja cada vez mais forte”.

“A dignidade – concluiu, de improviso – é mais contagiosa do que a gripe. A dignidade gera dignidade!”

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